Gustavo Maia Gomes
(6/12/2017)
(6/12/2017)
A Ivan, a Ivanilda, e a mim, seus filhos, Stella sempre
declarou não gostar de carnaval. Mas, Ivan nasceu em 1943. Ela tinha 25 anos. E
a mãe falava do presente, não do passado. Algumas fotos de 1935-40 me fazem
desconfiar que os melhores carnavais de Stella Pedrosa já haviam acontecido
quando nós a conhecemos.
Compreendi,
muito depois, que sua opinião fazia parte de uma estratégia de defesa. Meu pai,
Mauro, era insinuante nas relações com outras mulheres. Talvez, além do
aceitável para os homens casados de sua geração e classe social. Vários
episódios desagradáveis para mamãe, nessa área, devem ter acontecido em
carnavais vividos conjuntamente pelo casal.
Stella,
provavelmente, sentia os golpes, mas nunca se dispôs a protestar energicamente
contra eles. Com o tempo, meu pai foi ampliando o espaço de atuação fora de
casa e o casal estabeleceu um modus vivendi: Mauro ganhava mais e mais
liberdade, enquanto minha mãe racionalizava tudo dizendo, entre outras coisas,
não gostar de carnaval.
Se
não gostava, sofreu bastante, na juventude. Pois seu pai, Manoel Sebastião,
devia adorar o carnaval. Todos os anos, ele e a mulher, Olga, preparavam
fantasias para os seis filhos; especialmente, as moças: Maria, Heloisa, Stella
e Valentina. Ornamentava o automóvel e o caminhão. Reunia os sobrinhos e
sobrinhas que moravam perto -- e eles eram muitos. Todos juntos faziam a festa.
A tradição tornou-se tão forte que sobreviveu, inclusive, à morte meu avô, em
1936.
Que
festa podia ser aquela, não sei. Pois o ritual todo era cumprido na Usina Uruba
(Atalaia, AL) um lugar improvável para mocinhas cercadas de primos arranjarem
namorados. Mesmo assim, o ambiente era de alegria. Além disso, algumas vezes, a
família ia a Maceió. Do carnaval de rua da capital, naqueles remotos anos 1930,
Stella falava, sim, com admiração e saudade.
Descrevia
as bandas que se distribuíam pelas esquinas, tocando frevos e sambas e marchinhas
carnavalescas. (Ainda não existiam os pavorosos trios elétricos, nem os
alto-falantes estridentes.) As guerras de confetes e serpentinas, às vezes, tão
intensas que bloqueavam a passagem dos carros pelas ruas. Os lança-perfumes que
os rapazes apontavam para as meninas de sua predileção momentânea.
Ah,
os velhos carnavais de Stella! Esses, sim, ela deve ter achado bons.
(Publicado em Facebook em 7/12/2017)
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