quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

STELLA PEDROSA E OS VELHOS CARNAVAIS (100 Anos em 50 Fotos, III)

Gustavo Maia Gomes
(6/12/2017)
Ivan, a Ivanilda, e a mim, seus filhos, Stella sempre declarou não gostar de carnaval. Mas, Ivan nasceu em 1943. Ela tinha 25 anos. E a mãe falava do presente, não do passado. Algumas fotos de 1935-40 me fazem desconfiar que os melhores carnavais de Stella Pedrosa já haviam acontecido quando nós a conhecemos.
Compreendi, muito depois, que sua opinião fazia parte de uma estratégia de defesa. Meu pai, Mauro, era insinuante nas relações com outras mulheres. Talvez, além do aceitável para os homens casados de sua geração e classe social. Vários episódios desagradáveis para mamãe, nessa área, devem ter acontecido em carnavais vividos conjuntamente pelo casal.
Stella, provavelmente, sentia os golpes, mas nunca se dispôs a protestar energicamente contra eles. Com o tempo, meu pai foi ampliando o espaço de atuação fora de casa e o casal estabeleceu um modus vivendi: Mauro ganhava mais e mais liberdade, enquanto minha mãe racionalizava tudo dizendo, entre outras coisas, não gostar de carnaval.
Se não gostava, sofreu bastante, na juventude. Pois seu pai, Manoel Sebastião, devia adorar o carnaval. Todos os anos, ele e a mulher, Olga, preparavam fantasias para os seis filhos; especialmente, as moças: Maria, Heloisa, Stella e Valentina. Ornamentava o automóvel e o caminhão. Reunia os sobrinhos e sobrinhas que moravam perto -- e eles eram muitos. Todos juntos faziam a festa. A tradição tornou-se tão forte que sobreviveu, inclusive, à morte meu avô, em 1936.
Que festa podia ser aquela, não sei. Pois o ritual todo era cumprido na Usina Uruba (Atalaia, AL) um lugar improvável para mocinhas cercadas de primos arranjarem namorados. Mesmo assim, o ambiente era de alegria. Além disso, algumas vezes, a família ia a Maceió. Do carnaval de rua da capital, naqueles remotos anos 1930, Stella falava, sim, com admiração e saudade.
Descrevia as bandas que se distribuíam pelas esquinas, tocando frevos e sambas e marchinhas carnavalescas. (Ainda não existiam os pavorosos trios elétricos, nem os alto-falantes estridentes.) As guerras de confetes e serpentinas, às vezes, tão intensas que bloqueavam a passagem dos carros pelas ruas. Os lança-perfumes que os rapazes apontavam para as meninas de sua predileção momentânea.
Ah, os velhos carnavais de Stella! Esses, sim, ela deve ter achado bons.


(Publicado em Facebook em 7/12/2017)

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