Gustavo Maia Gomes
De
todos os nossos ex-presidentes ainda vivos, somente um poderia ser a
consciência da Nação. É um papel raramente preenchido, mas importante. O do
homem ou mulher cheio de sabedoria, moralmente íntegro, respeitado pelos
cidadãos. Alguém que fala pouco, durante quase todo o tempo, mas fala o
essencial, quando necessário. E é ouvido.
Quem se candidata? – José Sarney? – Perguntem aos
maranhenses. – Fernando Collor? – Contenham a indignação. – Lula? – O condenado
pela Justiça? – Dilma? A que estoca vento? – Não. Não. Não. Não. Só uma
pergunta não soa ridícula: – Fernando Henrique Cardoso? – Sim, poderia ser
Fernando Henrique Cardoso.
Mas,
não é. O príncipe dos sociólogos perdeu essa oportunidade muitos anos atrás,
quando abandonou o candidato de seu partido à própria sorte, ansioso que estava
por entregar o país a um ex-operário que (já se sabia, à época) não tinha
escrúpulos morais. Às favas a moral, deve ter pensado Fernando: um (ex)
operário na presidência combina tão bem com a minha sociologia! E, assim, o
príncipe amou a quem lhe odiava.
Nos
quinze anos seguintes, esse enredo se repetiria inúmeras vezes: Lula ataca
Fernando (de maneira injusta, caluniosa) e Fernando defende Lula (de maneira
submissa, acovardada). Na semana passada mais um capítulo: Fernando declara que
não queria ver Lula preso, preferia que ele fosse derrotado nas urnas.
Será
isso mesmo o que Fernando aspira? Que o personagem sociológico perfeito seja
"derrotado nas urnas"? Ou não seria seu desejo secreto ver o
ex-operário de novo na Presidência, para comprovar as teses antigas, terminar a
Grande Destruição e nos brindar com o socialismo (ainda que
"bolivariano")?
Não
sei, nem quero saber. Os desejos íntimos daquele senhor não têm importância.
Não para mim. Agora, uma coisa, sim, escandaliza: testemunhar um ex-presidente
defender (implicitamente, ao menos) a desobediência à lei, com a implicação de
que os "líderes populares" não precisam responder à Justiça, apenas
às urnas, é grave. Gravíssimo.
Phillippe
Pétain (1856-1951), o marechal francês, era chamado "O Leão de
Verdum" pelo seu heroísmo na Primeira Guerra Mundial. Na Segunda,
desonrou-se, concordando em ser um títere de Hitler, à frente da chamada
República de Vichy. Em agosto de 1945, com a derrrota dos alemães, foi
condenado à morte por traição. Teve a pena comutada, mas ninguém jamais pensou
em considerá-lo a consciência da Nação.
O
posto, porém, não ficou vago. Charles de Gaulle (1890-1970), que se recusou a
negociar com Hitler, e se tornou o líder da França Livre foi, sim, durante
muitos anos, a consciência da sua pátria. Como seria bom ter alguém assim entre
nós.
(Publicado no Facebook em 11/12/2017)
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