quinta-feira, 26 de outubro de 2017

THE LOST DIRECTOR

27 de agosto · Recife · 

The Lost City of Z (A Cidade Perdida), filme dirigido por James Gray, conta a aventura no Brasil de Percy H. Fawcett (1867-1925?), explorador inglês. Havia essas lendas de uma civilização pre-cabralina cheia de ouros e pratas. O inglês acreditou nelas. Encontrou patrocínios e veio para a selva tropical, em três ocasiões.
Em 1925, Fawcett desapareceu nos interiores próximos à Serra do Roncador, Mato Grosso. Foi, provavelmente, assassinado pelos índios. Um livro (de David Grann, 2009) tratou do assunto. Agora, vem James Gray e faz esse filme. Desperdiçou uma bela história. Ao terminar de assisti-lo, descobrimos que, além da cidade, o diretor também está perdido.
O pior é ver os personagens (supostamente, reais), em suas andanças pelas selvas brasileiras no início do século XX, declamarem o discurso do politicamente (e ecologicamente) correto.
Ao deparar com quatro pés de milho cultivados pelos índios canibais, Fawcett diz para seu ajudante, mais ou menos, o seguinte: "E nós [ingleses] dizendo que eles são selvagens". Quando fica sabendo que os americanos preparam uma expedição em busca da cidade perdida, sai com esta: "o perigo é eles destruírem o [povo] que querem encontrar".
Ao ver um índio jogar no rio um líquido branco, o explorador esclarece ao público que "o veneno embriaga os peixes. Eles pegam somente os que necessitam para comer". (A sugestão implícita é que nós, assassinos da natureza, lançamos ao mar aqueles navios enormes apenas para matar os peixes e, em seguida, pendurá-los na parede.)
E por aí vai. Nenhuma palavra sobre a m. de vida que aqueles selvagens levavam; silêncio total para a natureza devastadora da agricultura praticada pelos índios; mentira aberta sobre o veneno que não mata os peixes, "apenas os embriaga".
Naturalmente, o diretor perdido calculou que ia ganhar boas resenhas obrigando Fawcett a declamar as idiotices que somente viriam a se tornar moda quase cem anos mais tarde.
Mais uma vez, somos todos tratados como imbecis pelos ideólogos do politicamente correto. Que vão todos apertar a mão de Mickey Mouse na Disneyworld. Eu tô fora.

(PS. Em 2015, escrevi no meu blog sobre a "cidade perdida". Três páginas do artigo valem mais do que duas horas do filme que assisti ontem, ao lado de Lourdes Barbosa.)

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