segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Sérgio Cardozo: Médico, jornalista e abolicionista

O avô dos primeiros Maia Gomes baianos
Gustavo Maia Gomes


Pessoa notória, em seu tempo, Sérgio Cardozo (1858-1933) nasceu na Bahia, onde estudou medicina e foi jornalista. Ativista da Abolição, não concluiu o curso, provavelmente, vítima de retaliação pelo resgate de um menino escravo que o Barão de Cotegipe (João Maurício Wanderley, 1815-89) pretendia levar para a Corte.

O episódio, ocorrido em ano próximo a 1884, teve grande repercussão, ainda mais porque Cotegipe era, à época, presidente do Senado e logo viria a ser chefe de Governo (1885-88). Impedido de continuar os estudos, embora já estivesse no penúltimo ano do curso, Cardozo mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se tornou amigo de José do Patrocínio (1854-1905), grande líder abolicionista.
Mestiços e jornalistas
Ambos eram mestiços, filhos de brancos com negras ex-escravas. No Rio, Cardozo trabalhou em vários jornais. Num deles (“A Cidade do Rio”), pertencente a Patrocínio, conviveu com Olavo Bilac (1865-1918), o célebre poeta parnasiano, que lhe mandava seguidos bilhetes sugerindo pautas.
Após a Abolição (1888), “A Cidade do Rio” tornou-se monarquista, o que deve ter desgostado Cardozo, republicano convicto. Além disso, José do Patrocínio, endividado e já doente, saiu de cena. O baiano achou que estava na hora de voltar para sua terra. Fez isso, provavelmente, ainda nos primeiros anos 1900. Conseguiu um emprego público federal num distrito (Berimbau) de Santo Amaro da Purificação e ali se tornou, adicionalmente, jornalista, boticário e médico prático.
Sérgio Cardozo entrou na história da família Maia Gomes quando sua filha Elisette se casou com Alípio, irmão de Nominando, Fernando, José, Jovino, Juvenal, Amélia, Amália, Eulália, Antônio e Frigdiano.
Vida curta, mas movimentada
Alípio Maia Gomes (1878-1916) teve vida curta, porém movimentada. Ainda no século XIX, saiu de Murici (AL) para estudar, primeiro, no Liceu alagoano, em Maceió; depois, na Faculdade de Medicina da Bahia. Formou-se médico em algum ano próximo a 1900 e passou a viver e trabalhar em Santo Amaro da Purificação (BA).
Naquela cidade do Recôncavo, Alípio se casou (em primeiras núpcias, 1906) com Luíza Brandão, filha de Rodrigo Antonio de Falcão Brandão (1865-1911), um “notável político” baiano, segundo os jornais da época. Com Luíza, Alípio teve dois filhos, cujos nomes desconheço, mas, enviuvou prematuramente (jan. 1910).
O casamento com Elisette, na mesma cidade, ocorreu, provavelmente, em 1912. Dele, nasceram Luiz (4/4/1913), Francisco (11/7/1914), Yára (7/10/1915) e Inah (22/10/1916). Todos tinham o sobrenome Cardozo Maia. (Sem o “Gomes”, pelo que pude apurar.) Tenho uma foto preciosa, que me foi emprestada por Ivan Pedrosa Maia Gomes, onde aparecem três dos quatro filhos de Alípio e Elizette, todos, ainda, crianças. Apenas dois anos e meses após a morte do pai deles.
Amigos para sempre
Sogro e genro se tornaram amigos e, em sua "Memória Histórica de Santo Amaro" (1920), Sérgio Cardozo elogia a atuação corajosa de Alípio Maia Gomes, como médico, durante uma epidemia de cólera que assolou a cidade em 1912. Também há notícias anteriores de que Alípio teve atuação destacada assistindo os feridos da Guerra de Canudos.
Em outro desdobramento que não tem a ver com os Maia Gomes, uma neta de Sérgio Cardozo, Velleda Cardozo Barreto Pinto, descendente de espanhóis, fundou, com o marido, o Teatro de Amadores da Bahia. Não consegui saber se essa companhia teatral ainda existe.
Notas
(A história de Alípio Maia Gomes e de seus descendentes, meus primos desconhecidos, vai poder ser mais bem contada nos próximos dias, agora que Angela Gomes De Souza Chaloub me pôs em contato com uma das netas de Alípio, Iza, residente em Salvador.)
(As fontes dos fatos relatados aparecerão em detalhe no livro que ora escrevo sobre os Maia Gomes, os Bahia, os Araújo Pedrosa, Kuhn, Quanz, Dias Cardoso, Kruss... Enfim, sobre meus ancestrais.)

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