terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Quem faz o quê no Facebook

A Deloitte, empresa internacional de consultoria, calcula que, na União Europeia, o Facebook (FB, para os íntimos) e as empresas dele dependentes respondem por 232 mil empregos e por 15,3 bilhões de euros (R$ 35 bilhões) em valor anualmente produzido. Nos Estados Unidos, a Universidade de Maryland estima que a rede social criou 182 mil empregos e faz pagamentos anuais de 12,2 bilhões de dólares (R$ 21,6 bilhões) em salários. Para um serviço que ainda não tem dez anos de existência, são números impressionantes.
Todos concordam quanto à importância do Facebook, mas sua natureza ainda é mal compreendida. Para saber como, exatamente, ele impacta a sociedade e a economia, deveríamos começar conhecendo melhor os usuários do serviço, os grupos em que se dividem, o que fazem na rede social e o que dela esperam. Estatísticas demográficas, sociais e econômicas a este respeito começam a ser produzidas e estão disponíveis na Internet. Mas encontrei pouca informação sobre o que os usuários fazem e o que esperam receber ao digitar comentários, curtir ou comentar posts. Proponho, então, lançar algumas hipóteses a partir, sobretudo, de minha experiência.
Sendo eu um recém-chegado a esse mundo, a classificação funcional que apresento a seguir, assim como a descrição das características principais de cada grupo de usuários, é extremamente preliminar. Ficarei grato aos leitores que sugerirem aperfeiçoamentos.
1.      Auto-ajuda
Uma parte das pessoas usa o Facebook para publicar pensamentos, máximas e palavras de ordem, quase sempre, alheios. A oferta de frases feitas já é abundante; vários sites na internet produzem material dessa natureza, frequentemente, adornado com belas ilustrações ou fotos. Proponho chamar este o “Grupo da Auto-ajuda”.
Seus integrantes não creem que irão mudar o mundo, mas, por via das dúvidas, dão sua contribuição. Mais importante é que eles se consideram recompensados ao colher comentários (sempre numerosos e, invariavelmente, favoráveis) de seus “amigos”. Podem, aos poucos, firmar uma reputação de pessoas sábias, responsáveis, prudentes, inteligentes, num círculo muito maior do que seriam capazes de formar em contatos diretos, não virtuais.
2.      Ka-ka-ka
A turma do Ka-ka-ka parece ser, em regra, composta por adolescentes. Eles usam o FB como um meio de comunicação, mas se conhecem e interagem também fora da internet. Geralmente, os assuntos são mundanos e se referem aos interesses e aspirações do dia-a-dia dessas pessoas. A recompensa pela participação na rede está neste dar e receber informações valiosas de amigos e “amigos”.
O grupo criou um dialeto próprio, com novas palavras [kkk, uuu, hehehe...] e símbolos especiais [ (=: e outros]. Mesmo quando os participantes da turma têm educação formal, ela pouco influencia sua maneira de falar. Não há mais pontuação, concordância ou emprego adequado de maiúsculas e minúsculas. É a facilidade de digitação que determina a linguagem: para escrever uuuuuuuuuuuu, por exemplo, basta apertar uma tecla e mantê-la pressionada. Machado de Assis não poderia querer mais.
3.      Fórum de intelectuais
Algumas pessoas (claramente, sou uma delas) usam o Facebook como um fórum de intelectuais. Postam artigos e peças de ficção literária, fazem críticas cinematográficas, expressam opiniões políticas, leem jornais, revistas e blogs selecionados. Já fazíamos isso antes via jornais, revistas, diários íntimos, etc, mas de forma menos eficiente. Hoje, mesmo quando publicamos alguma coisa em mídias tradicionais, achamos importante oferecer um link na rede social, por onde é mais fácil e provável receber comentários, aferir repercussões.
Em última análise, temos motivações semelhantes às do grupo da auto-ajuda: adoramos sustentar uma conversa que julgamos inteligente com pessoas a quem respeitamos e, sobretudo, nos delicia receber comentários favoráveis às nossas postagens. Infelizmente, com frequência, somos considerados animais estranhos, ou indivíduos pernósticos, pelos que integram os demais grupos. Uuu, kkk.
4.      Colunáveis
Há aqueles – talvez, a maioria dos usuários do Facebook – que publicam regularmente sua vida pessoal e familiar, documentada em infindável quantidade de fotos. O serviço é gratuito, aberto a todos, e as imagens são reproduzidas em alta qualidade. Como esta democratização de oportunidades só passou a existir muito recentemente, é natural que ainda estejamos tentando entender o que ela significa.
Uma total renúncia à privacidade? De certa forma, sim. Mas, será algo novo? Colunas sociais em jornais sempre fizeram isso, publicar fotos e se imiscuir na vida privada dos notáveis. Só que nem todo mundo podia sair nas colunas. Agora, pode. A recompensa obtida pelos integrantes do grupo é que, de repente, todos eles se tornaram “colunáveis”. Não é que, lamentavelmente, as pessoas tenham perdido a privacidade, mas sim que, felizmente, isso aconteceu.
5.      Noticiosos
Jornalistas comunicam seus blogs pessoais com o Facebook; jornais e revistas tradicionalmente editadas em papel, também. Em conjunto, podem ser considerados personagens no mundo das redes sociais: os noticiosos. Os jornalistas, considerados individualmente, em particular, interagem muito com os intelectuais. E vice-versa.
Para quem vive de ser lido, o Facebook proporciona uma oportunidade preciosa, imperdível. A recompensa desse povo é esta: poder apresentar a si mesmos, aos seus chefes e eventuais patrocinadores atestados de que estão sendo notados pelo resto da humanidade. E com isso, ganhar melhor salário ou atrair mais anunciantes para seu blog pessoal.
6.      Políticos e empresas
Também há grupos de políticos e de empresas. Estão juntos porque ambos vivem da propaganda. Dos políticos, alguns noticiam cada passo que dão (“agora estou no mercado, ouvindo o povo”...), outros informam o estado atual de suas ideias (“sempre fui a favor de não ser contra nada”...) Um deles, de projeção nacional, foi pioneiro em outra rede, o Twitter, que bem poderia ser chamada a reinvenção do telégrafo. Se tudo isso der votos, melhor; se não, pelo menos, é de graça.
Aparentemente, é uma redundância, pois essas coisas já eram feitas nos sites tradicionais, mas as empresas descobriram as redes sociais como mais um canal de propaganda e comunicação com seus clientes. Como podem montar suas páginas gratuitamente no Facebook, está ainda mais explicada sua presença ali.
7.      Interesses específicos
As redes sociais também têm sido utilizadas por grupos com interesses específicos: “Adoro cachaça”, “Fanzocas do Justin Bieber”... Os exemplos mais impactantes foram proporcionados pela chamada Primavera Árabe (que derrubou vários ditadores, ora sendo substituídos por outros), mas houve muitos casos anteriores de grandes mobilizações organizadas e coordenadas via Facebook.
O artigo de Tom Hayes, citado nas referências, chama a atenção para uma das muitas e extraordinárias implicações dessa circunstância inteiramente nova: os sindicatos de trabalhadores podem se tornar obsoletos. Já é muito mais prático e eficiente organizar greves via redes sociais do que pelos meios clássicos – e os líderes produzidos pelo Facebook não são, necessariamente, os mesmos que ganhariam as eleições sindicais.
8.      Uma nota final
Muitos outros grupos devem existir. Espero que os leitores me ajudem a identificá-los. Afinal, mobilizar trabalho alheio a custo zero é uma das grandes possibilidades do Facebook. Supera os sonhos dos mais ardentes escravocratas.
Escravos precisam ser alimentados: “amigos”, não.

Gustavo Maia Gomes

REFERÊNCIAS (Para quem quiser ir às fontes)
Delloite, “Measuring Facebook´s economic impact in Europe”, January 2012, Link: http://www.deloitte.com/view/en_GB/uk/industries/tmt/media-industry/df1889a865f05310VgnVCM2000001b56f00aRCRD.htm
Center for Digital Innovation, Technology and Strategy (University of Maryland), “The Facebook App Economy”, September 2011. Link: http://www.rhsmith.umd.edu/digits/pdfs_docs/research/2011/AppEconomyImpact091911.pdf
Facebook Statistics by country. Link: http://www.socialbakers.com/facebook-statistics/

Este artigo será publicado, simultaneamente, em http://www.blogdatametrica.com.br, http://www.econometrix.com.br e http://www.gustavomaiagomes.blogspot.com (28/02/2012)

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Euro era ouro. Virou besouro


Gustavo Maia Gomes
Grécia atolada em dívidas, o euro prestes a desmanchar, desemprego crescente, economias declinantes, depredações em Atenas, pavor de uma crise bancária, repetidos deixa-cum-nói de Merkel e Sarkozy... Nos jornais, 1.234 notícias sobre a crise; na internet, 4.321 outras. Leio todas. Será que entendi alguma coisa? Inseguro, divido com o leitor o estado atual de minha ignorância.
RAÍZES
A interpretação mais difundida da crise é, em linhas gerais, a seguinte: Grécia, Portugal, Espanha e Itália passaram anos gastando além do que arrecadam. Para fechar as contas, faziam dívidas. Um hábito antigo, intensificado após 1999, com a criação do euro. Enquanto a economia crescia, ali e em todo o mundo, foi possível manter o desfile na Sapucaí: a arrecadação de impostos aumentava; os bancos se sentiam seguros em emprestar àqueles governos que, reconfortante circunstância, tinham todos uma mesma e respeitável moeda.
Como o euro era ouro, governos da periferia europeia conseguiam tomar dinheiro a taxas de juros quase tão baixas quanto, por exemplo, as pagas pela Alemanha, apesar de a reputação desta na Serasa e no SPC ser muito melhor que a da Grécia, Portugal, Espanha, Itália... Isso permitiu aos políticos dos países hoje em crise praticar com o dinheiro público, mesmo aquele tomado em empréstimo, bondades que lhes rendiam votos. E assim, recebendo benefícios cujo pagamento era adiado para um indeterminado futuro, viveram felizes aqueles povos.
Mas o mundo gira e a Lusitana roda. Em 2009, veio a crise das hipotecas, originária dos Estados Unidos. O “indeterminado futuro” havia chegado. Por toda parte, o crescimento econômico desapareceu. Consequentemente, as receitas de impostos caíram, porém não as despesas públicas, de modo que governos com déficit orçamentário passaram a depender ainda mais de empréstimos. Percebendo o risco de não ter seu dinheiro de volta e a oportunidade de aprofundar a facada, os bancos, com a habitual miopia, exigiram juros maiores para renovar os papagaios e fornecer novos financiamentos. O que, claro, só fez piorar as coisas.
Em prazo maior ou menor – para a Grécia, já em outubro de 2009 – ficou claro que, se contassem apenas com seus meios próprios, aqueles países não poderiam continuar honrando os compromissos assumidos. Foi quando a crise deixou de ser apenas grega para se tornar europeia e, talvez, mundial.
CONTÁGIO
Não é por altruísmo ou solidariedade internacional que a dupla Merkozy anda tão preocupada com o pequeno país cuja economia responde, apenas, por 2,6% do Produto Interno Bruto da União Europeia. (Os jornais e televisões definem PIB como “a soma de todas as riquezas produzidas num país”. Não é 100% correto, mas dá para o gasto.) Uma eventual falência grega se propagaria rapidamente por todo o continente – e para a América, também. Sobretudo porque, parodiando o que se dizia do Brasil, na década de 1980, a Grécia deve a apenas duas pessoas: Zeus e o mundo.
Deve, especialmente, a instituições financeiras francesas, alemãs, americanas, portuguesas, espanholas. Muitas delas não suportariam um calote, sem ir, elas próprias, também à falência. Os donos do dinheiro sabem disso e já estão abandonando os bancos mais expostos. No momento em que as esperanças de socorro monetário vindo da Alemanha, França, FMI, Estados Unidos, China e de quem mais quiser colaborar; (“Ei, você aí, me dá um dinheiro aí”) se extinguirem, uma corrida – ou seja, o comparecimento em massa dos depositantes e aplicadores aos bancos, tentando retirar o seu – se tornará incontrolável.
Com os bancos derrubados e o dinheiro saindo do país a galope, boa parte da economia grega deixaria de funcionar. As repercussões, em rápida sucessão, seriam fechamentos de fábricas, desemprego, depredações e pânico financeiro se alastrando para outros países igualmente fragilizados os quais, subsequentemente, também entrariam em colapso. Na esteira de tudo isso, a Europa, com certeza; e o mundo, provavelmente, cairíam em depressão econômica, estágio superior da desgraça. O euro, que já foi ouro, viraria besouro. Daí a preocupação de Merkel e Sarkozy.
QUEDA E COICE
Essa interpretação do endividamento excessivo e suas conseqüências prováveis tem sido irrestritamente acolhida pelos governos e instituições financeiras que dominam a Europa, razão suficiente para ela ser considerada suspeita. Na essência, entretanto, a explicação não agride os fatos, parece verdadeira. Mas tem um filho bastardo, a visão aritmética de como funciona a economia.
Com base nela, os alemães estão dizendo para os gregos: vocês ficaram insolventes porque seu governo gastou mais do que podia. Nós vamos lhes tirar do sufoco, para evitar que morram (“e nos levem junto”, frase omitida do discurso), mas também iremos cobrar que se emendem, elevando impostos e cortando despesas. Adeus, boa vida; adeus, salários pagos em dia, previdência social funcionando, aposentadorias garantidas. Tão achando ruim? Vão para a Etiópia.
É o fim da picada. Exigir que os países endividados reduzam seus gastos no meio de uma situação como a que eles, atualmente, vivem vai aprofundar a recessão, aumentar o desemprego, baixar as rendas, diminuir ainda mais as receitas tributárias. Piorar a crise, enfim, especialmente, na própria Grécia. Se fosse possível resolver os problemas desta forma, seria injusto. Em não o sendo, trata-se de uma estupidez.
Para os descendentes de Sócrates, Platão e Aristóteles, vai ser como juntar um coice à queda.


Este artigo será publicado, simultaneamente, em http://www.blogdatametrica.com.br, http://www.econometrix.com.br e http://www.gustavomaiagomes.blogspot.com (22/02/2012)

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Sexo, drogas e rock-and-roll


Gustavo Maia Gomes

Três palavras sempre em moda (assim como o que elas representam): sexo, drogas e rock-and-roll.
SEXO
Os crimes de pedofilia cometidos pelos padres já custaram à Igreja Católica mais de dois bilhões de dólares em indenizações. O cálculo foi apresentado na semana passada, em reunião promovida pelo Vaticano para discutir o escândalo. Só nos Estados Unidos, cem mil pessoas se declararam vítimas de abusos semelhantes. Os casos denunciados na Irlanda, Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Brasil, Canadá, Chile, Índia, Holanda, Filipinas e Suíça, entre outros países, contam-se em centenas.
Há padres e podres.
DROGAS
O presidente Obama vai sancionar nos próximos dias a Lei de Prevenção do Contrabando com Aviões Ultraleves, para reforçar o combate ao tráfico de drogas nas fronteiras do México e Canadá com os Estados Unidos. A medida busca corrigir uma brecha legal, pois os narcotraficantes em ultraleves recebem sentenças menores do que quando são detidos em aviões ou automóveis.
Passarão a usar jumentos.
ROCK-AND- ROLL
O Itaú teve, em 2011, o maior lucro realizado por um banco na história do Brasil: R$ 14,6 bilhões, quase 10% mais do que tinha conseguido em 2010. O Bradesco lucrou R$ 11 bilhões. E assim por diante. Explica-se: este último cobra 8,81% por mês sobre os saldos descobertos do cheque especial; o campeão em lucros tasca 8,88% a cada trinta dias, 178% ao ano. Os outros seguem o mesmo caminho. Agiotagem não é mais crime.
Eles rock, nós roll.

Este artigo será publicado, simultaneamente, em http://www.blogdatametrica.com.br, http://www.econometrix.com.br e http://www.gustavomaiagomes.blogspot.com (12/02/2012)

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Facebook com mandioca


Gustavo Maia Gomes
Duas notícias se destacaram, na semana passada. Aparentemente desconectadas, após análise mais profunda fica claro que elas não têm mesmo nenhuma relação entre si.
1. O Facebook encaminhou à agência americana que fiscaliza as bolsas de valores pedido de lançamento público inicial de ações (IPO, na sigla em inglês). O Brasil, onde o serviço tem crescido vertiginosamente, é citado oito vezes na documentação que instrui o processo.
2. Elizabeth II completou 60 anos como rainha da Inglaterra e de outros países subalternos ou acomodados. Até agora, portanto, está sendo parcialmente cumprida a profecia de Farouk, destronado pela revolução egípcia de 1952: “no futuro, só haverá cinco reis: o da Inglaterra e os quatro do baralho”.
FACEBOOK
Os números do Facebook são estratosféricos: a rede já conecta 845 milhões de usuários cadastrados; anuncia IPO em que espera arrecadar cinco bilhões de dólares; e pode estar na iminência de valer 100 bilhões de dólares. É um símbolo da nova economia baseada na informação e comunicação. Paradoxalmente, tem lucro líquido de apenas um bilhão de dólares.
“Apenas um bilhão” porque uma empresa de 100 bilhões deveria ter lucro próximo a dez, não a um bilhão de dólares. É claro que há uma expectativa de maiores lucros no futuro, mas o salto de um para dez é improvável. A melhor explicação para esta valorização excessiva parece ser, outra vez, a lógica das bolhas que, uma vez explodidas, trazem as fantasias de volta à realidade. O mundo já viu isso: de 2001 a 2003, as ações das empresas de tecnologia cotadas na bolsa Nasdaq perderam 80 por cento de seu valor.
Seja como for, pelos seus méritos verdadeiros e também pelos falsos, o Facebook é um símbolo do mundo atual. Assim como Elizabeth II, embora por razões completamente outras.
ELIZABETH
Justiça seja feita, nessas seis décadas, a rainha passou por muitas situações difíceis, das quais sempre se saiu bem. As mais notórias foram provocadas por seu primogênito e presuntivo sucessor. Mas não as mais importantes. O verdadeiro desafio enfrentado e vencido por Elizabeth foi se adaptar com sucesso a um mundo de contínuas e profundas mudanças. Um mundo ameaçador para gente, como ela e sua família, cujo prestígio e riqueza dependem do apego das pessoas comuns a tradições envelhecidas.
Não se trata, apenas, de que, quando Elizabeth começou seu reinado, o mundo tinha dois bilhões e meio de habitantes; enquanto, hoje, tem sete bilhões. Mas, principalmente, de que milhares de coisas inventadas nos últimos 60 anos se tornaram rotineiras, transformando, radicalmente, nossas vidas e tornando exóticas as figuras de monarcas. A rainha assimilou tudo isso com notável habilidade, dissimulando, a cada passo, o anacronismo da monarquia. Afinal, quem precisa de rei quando pode consultar o Google? Ou ser “amigo” (virtual, mas, que importa?) dos famosos?
De qualquer modo, a relação parcial dos processos, objetos e tecnologias hoje importantes, que não existiam em 1952, impressiona. Naquele ano, o mundo não conhecia a ultrassonografia médica (inventada em 1953); o rádio transistor (1954); o disco rígido de computador (1955); o relógio digital; a fibra ótica e o gravador de videocassete (1956); o satélite artificial (1957); o circuito integrado e o satélite de comunicações (1958); o raio laser (1960); o disco de leitura ótica (1961); o mouse de computador (1963); o e-mail, a tela de cristal líquido, o microprocessador, a calculadora de bolso, a imagem de ressonância magnética e o disco flexível (1971); a tomografia computadorizada (1972); os organismos geneticamente modificados e o computador pessoal (1973); a câmera digital (1975); o telefone celular (1977); a internet (1983); o fingerprint do DNA (1985); o processador de luz digital (1987); a World Wide Web (1990); o Sistema Global de Posicionamento (1993), o DVD e o wi-fi (1997); o Viagra (1998); o coração artificial (2001).
Sem contar os I-Pods, I-Phones, I-Pads e outras bugigangas do Steve Jobs. Nem o Facebook (proibido na China), que ajudou a derrubar mais de um ditador árabe.
E A MANDIOCA?
O reconhecimento de tantas inovações não nos deveria fazer esquecer outras verdades. O mundo se transformou, sim, mas não no mesmo ritmo em todos os lugares. Para dar um exemplo próximo: há 400 anos, planta-se mandioca do mesmo jeito, no Semiárido brasileiro. E milho, feijão...
Se, ao invés da Inglaterra, Elizabeth reinasse em algumas partes do nosso Sertão, ia reclamar da mesmice, não da mudança.
 Este artigo será publicado, simultaneamente, em http://www.blogdatametrica.com.br, http://www.econometrix.com.br e http://www.gustavomaiagomes.blogspot.com (07/02/2012)